quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A corrida de touros de San Fermin

Corrida de touros de Pamplona. Trecho da Estafeta, onde corri.
Na nossa cultura é tudo muito estranho ver pessoas se divertindo enquanto põem em risco suas vidas, correndo ao lado de touros de mais de 300kg. Tradições à parte, os encierros ou corrida de touros de Pamplona têm fama mundial e fazem parte da lista de coisas para se fazer antes de morrer de muitos viajantes. Correr nesse evento é algo que traz uma sensação de desafiar a próxima vida, e de que existem muitos outros loucos que concordam com você.

História

Os encierros surgiram quando os touros que eram conduzidos pelos pastores até a Plaza de Toros (que é, na verdade, uma arena) começaram a ser seguidos por outras pessoas que ajudavam gritando e açoitando os animais. Os açougueiros da rua Santo Domingo (início do trajeto atual) foram os pioneiros da brincadeira, por esse motivo, todos do festival de San Fermin usam roupas brancas, semelhantes às dos açougueiros.

Por muitos anos as corridas, bem como o festival, eram um fenômeno local e desconhecido do resto do mundo. Sua fama se deve ao livro Fiesta, do escritor norte americano Ernest Hemigway, um apaixonado pelo festival e pelas touradas. Até hoje, Hemingway é uma figura amada e respeitada pelos pamploneses com direito a bustos, nomes de prédios e até roteiros turísticos por pontos que tem alguma relação com o escritor e seus livros.
Estando em Pamplona, uma visita ao Museu del Encierro é obrigatório para conhecer mais sobre a festa e sobre o escritor que ajudou a popularizá-la. Aproveite, caso decida correr, para treinar no simulador de encierro, uma esteira com óculos de realidade virtual que imita a corrida.

Simulador de corrida

Preparativos para o Encierro

Logo cedo as ruas são isoladas por um contingente policial, limpas pela prefeitura e conferidas por agentes municipais. Dentro das cercas de madeiras, fica apenas quem vai correr. Os corredores deve chegar antes das 07h30, senão ficam de fora. Uma vez dentro, você ainda pode ser expulso se estiver de sandálias nos pés, filmadora em punho ou trajando objetos que possam atrapalhar, como mochila, chapéu. Também não pode permanecer quem apresenta estado de embriaguez. Os policiais não negociam. Expulsam mesmo! E em caso de acidente durante a corrida, a Cruz Vermelha socorre os feridos.
Para quem quiser só assistir, além da arena de touros, existem duas opções para assistir a corrida além, é claro, da transmissão ao vivo pela TV. Uma é enfrentando a multidão que se espreme atrás dos cercados das ruas adjacentes, mas precisa chegar bem cedo. A outra são nos balcones, as varandas das residencias ao longo do trajeto, cujos valores podem variar de 35 a 130 euros. Muitos fornecem café da manhã e televisão para acompanhar os melhores momentos da corrida.
Ao raiar do dia, as pessoas são convidadas a sair do trajeto. A prefeitura cuida da limpeza

A corrida

Todas as manhãs da festa, exatamente as 08h00, cerca de dez touros são soltos de um curral na Rua de Santo Domingo e seguem por 800 metros, passando pela Plaza de Consistorial, Rua Mercaderes, Rua Estafeta, dobram em frente ao prédio da Telefónica e entram no Callejón, último trecho antes da arena.
É praticamente impossível correr o percurso inteiro, graças à velocidade dos touros, que é bem maior que a de um ser humano médio. Quando corri, no dia 08 de julho de 2012, optei pelo trecho da Estafeta por ser um dos últimos. Os touros correm de forma previsível, em um ritmo mais lento por já estarem cansados. Estatisticamente, é onde acontecem menos acidentes. Os primeiros metros são os mais velozes. A esquina da Mercaderes com a Estafeta (conhecido como curva da morte), e o trecho conhecido como Telefónica contabilizam mais acidentes.
Ao longo do tempo da corrida são lançados três foguetes que orientam os participantes. O primeiro informa que as porteiras foram abertas. O segundo, que o último touro saiu do curral. E o terceiro avisa que o último touro já entrou na Plaza de Toros. Tudo isso é muito importante pois, em meio ao tumulto, um ou mais touros podem se desgarrar dos demais e ninguém quer ser pego de surpresa por um touro desorientado quando imagina que todos já entraram na arena. Mas não termina por aí.
A corrida acaba na arena, onde uma multidão que pagou ingresso para ver a chegada esta lá, entusiasmada com o evento. Após o fechamento dos portões, quatro tourinhos são soltos um a um para desespero dos corredores e delírio da plateia. Os tourinhos tem um tampão em seus chifres o que evita maiores machucados e a diversão é tentar desviar dele, correr ou mesmo saltar por cima. Alguns tentam se agarrar ao animal, muitas quedas, corridas e torções acontecem mas sem maior gravidade. Para quem adora torcer para o touro, esse é um ótimo programa.

Corram que o tourinho está solto!

Conselhos para quem vai correr


  1. Estar em plena forma física e etílica. Correr embriagado é uma insensatez que, apesar dos avisos, é cometida por muita gente;
  2. Esteja atento ao seu redor. Por incrível que pareça, a maioria dos acidentados são entre os próprios corredores: tropeços, pisadas etc. Olhar para frente e ver se todos estão correndo é tão importante quanto olhar para trás e ver se o touro está a uma distancia segura;
  3. Ao contrário do que se imagina, o objetivo dos touros não é chifrar ninguém, e sim, sair dali. Logo, se você tentar incitar o bichano, ele desviará sua trajetória para dar uma lição em quem o perturba. E é nessa hora que a corrida se torna perigosa;
  4. Os pastores que estão de roupa verde, trabalham para manter os touros em sua trajetória. Eles não devem ser atrapalhados de maneira nenhuma;
  5. Correr atrás ou na frente dos touros não é recomendado. Existe muita gente que faz isso mas são corredores profissionais. Alguns correm ao lado do touro, tentando tocá-los. Também não é seguro;
  6. Pior do que correr errado é ficar parado. Você pode ser atingido por uma multidão assustada e criar um efeito dominó. E nem tente pular as cercas ao lado das ruas pois a polícia te joga de volta;
  7. A principal dica: se cair, fique no chão! Proteja a cabeça e encolha as pernas, deixe as pessoas e os touros passarem. Pode ser doloroso ser pisado por eles mas é muito pior ser atingido ao se levantar. Geralmente alguém toca em você para dizer que a corrida e que você já pode se levantar.


Já dentro da arena da Plaza de Toros. Credito de um jovem que estava com o celular na hora.
CALMA! O sangue naquele rapaz à esquerda é a estampa da camisa.

Números


  • As corridas duram cerca de 2min30s. A mais rápida de que se tem registro, durou 1min50s. Quando algum touro se desgarra do grupo e custa a retornar o trajeto, a corrida pode passar dos 3 minutos;
  • Desde o início dos registros oficiais, em 1924, ocorreram15 mortes. A última foi em 2009;
  • O dia em que corri, 08/07, registrou a maior quantidade de participantes de 2012: Foram 4.200 participantes. O menor encierro foi no dia 13/07, com 1900 corredores;
  • Mais da metade (60%) dos corredores que estavam ali pela primeira vez. Apenas 15% dos corredores são experientes e habituais;
  • Os mesmos 60% representam corredores estrangeiros.Nesse ano houve um crescimento no número de estrangeiros devido à crise, mas a proporção em geral é de 1 para 1. Os americanos era a maioria dos estrangeiros (22,5%), seguidos dos australianos ou neozelandeses (13%). Ingleses eram 6,3%. O grupo dos sulamericanos correspondia a 2%;
  • A corrida é predominantemente masculina. Só 8% dos participantes são mulheres;
  • Dos corredores, 63% haviam dormido na noite anterior, sabiam das regras e dos riscos da corrida, ou seja, estavam preparados. Os totalmente desinformados sobre os perigos eram 2%;
  • Não vi brasileiros correndo e, mesmo na festa, encontramos apenas dois rapazes. Quando falávamos a nossa nacionalidade, muitos se surpreendiam, por ser raro.

Capuccino, o último touro a matar alguém em Pamplona. Agora, empalhado e exposto no Museo del Encierro

Uma curiosidade: Nívia era, oficialmente, a única jornalista brasileira cadastrada para fazer a cobertura do evento.

   Leia também:

      A experiência San Fermin


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José Jayme
Engenheiro civil, travel-writer, nerd de carteirinha, amante da boa comida e esportes em geral. Colaborador do guia e portal O Viajante.
Comentário(s) pelo Facebook:

1 comentários:

  1. Vendo estas fotos, pude ter a dimensão da história! Muito legal, tanto o relato quanto a experiência em si! Um abraço

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