segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Um Baile Funk para ir sem medo

No Barra Music não existiam aquelas grades que fazem uma espécie de fosso e separam o palco do público. Dava pra chegar bem pertinho! (Foto: Juntando Mochilas)

Em uma das minhas idas ao Rio de Janeiro, cismei de querer ir a uma das maiores representações da cultura carioca na atualidade: O Baile Funk. Puristas vão querer defender que funk não é cultura, e antes que o debate acalorado comece, adianto que não retiro uma linha do que escrevi. Estudei Antropologia Cultural demais para garantir que é cultura, SIM! Você pode até nem gostar, mas tem de engolir!
Pois bem... Convoquei minhas amigas que moram no Rio e a maioria se esquivou. Uma estava com filho doente, outra tinha visita em casa, a outra simplesmente tinha medo. Só a Adilene animou, mas fez algumas ressalvas. Por ser da Marinha, ela me avisou que não poderia ser qualquer baile, pois, no Rio, militar não é bem vindo em algumas comunidades.  Era arriscado. Concordei e ela foi escolher o baile.
Dias depois, ela me liga pra contar a novidade. O baile escolhido ficava bem próximo à cidade dela, na entrada de uma comunidade chamada Gardênia Azul. Ok, que era um baile "Nutella". Afinal de contas, a festa aconteceria numa das maiores casas de show do Rio, mas, mesmo assim, na favela e com atrações raiz. Fomos ver Naldo Benny (bem antes das confusões entre ele e a esposa) e Valesca Popozuda no Barra Music. 

Próximo à Barra da Tijuca, o Barra Music ficava na Linha Amarela, dentro da comunidade da Gardênia Azul e bem próximo da Cidade de Deus. (Imagem: Reprodução Google Maps).

O Barra Music era uma casa de show gigantesca, com pista, dois andares de camarotes e um grande palco. Ele deve ter sido pensado para grandes eventos, pois a estrutura impressionava. Eram muitos bares e banheiros espalhados pela casa toda. Ninguém passava aperto!
Logo na chegada, os preços dos ingressos nos deixaram chocadas e com medo. A entrada para a pista era de graça. Já o camarotes eram pagos: R$15 por pessoa. E nada de camarotes fechados para 10 ou 20 pessoas! Pagava-se por um 'ingresso de camarote' e entrava-se sem cerimônia nos camarotes onde já tinha gente. Coisas do Rio de Janeiro. Como a grande massa estava na pista, acabamos por conseguir um 'camarote privativo' e não precisamos dividir com mais ninguém.
Uma de nós ficou no camarote e a outra foi ao bar comprar bebidas. Outra surpresa foram os preços praticados no bar. Tudo muito barato. Não lembro exatamente, mas acho que uma ice custava R$6. Compramos logo um baldinho com umas 10 ices, que o garçom levou pra nossa mesa. Foi suficiente para a noite inteira.

Peguei esta foto do site do Barra Music só para vocês entenderem do que eu estou falando. São dois anéis de camarotes, uma pista enorme e vários bares (essas TVs no térreo e nos camarotes são os cardápios dos bares). (Foto: Divulgação Barra Music)

Primeiro foi o show do Naldo Benny. A princípio, eu achava que nem o conhecia e não estava empolgada para o show. Mas qual não foi a minha surpresa quando ele começou a cantar, o público delirou e eu acompanhei a primeira música inteira? Depois, eu cantei a segunda. E a terceira. E, quando eu me dei conta, eu era fã do Naldo e nem sabia. Eu cantei TODAS as músicas do cara.
Aí, quando ele terminou, entrou a Valesca. E o show que eu imaginei que iria adorar, foi só bonzinho. Ela cantou muito em playback e a todo momento jogava para a galera cantar. Para quem queria dançar, foi legal, mas para quem tinha alta expectativa foi fraco. Só valeu pela música que ela lançou neste show e que, em seguida, estourou no Brasil inteiro: o hit Eu Sou a Diva que Você Quer Copiar.


No Rio de Janeiro, eu não poderia deixar de conhecer um baile funk, não é mesmo?
(Foto: Acervo pessoal).
Quem conhece os bailes de favela deve dizer que não é a mesma coisa, mas, ainda assim, vi aquelas danças meio chocantes para quem não vive no meio do funk, como o trenzinho da sacanagem. Achei muito engraçado. E, para completar, ainda tive a minha foto no instagram curtida pelo Naldo Benny.
Acordar no dia seguinte e ver esta curtida me deixou toda-toda! (Foto: Acervo pessoal)


O Barra Music fechou. Não existe mais. Mas o Rio é cheio de locais como ele (talvez não tão grandes) e, se sua turma animar, vale a pena procurar e ir. Baile funk é a cara do Rio. Dependendo do local escolhido, é barato e seguro. Lógico que você não vai entrar em qualquer comunidade só com a roupa do couro e esse sorriso na cara, pois a cidade é bem violenta. Só que, com uma boa dose de planejamento e coragem, você pode ir sem medo, como eu fui e amei!

Nívia Gouveia
é jornalista, travel-writer e professora de língua portuguesa. Mochileira convicta, leitora incurável, sonhadora juramentada, ela pertence a uma linda labrador chocolate chamada Shakira.


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